Porque nós enxergamos as cores sempre iguais: entendendo o fenômeno da constância

Porque nós enxergamos as cores sempre iguais: entendendo o fenômeno da constância

Imagino que, assim como eu, você também deva ter recebido a foto da mochila que supostamente era branca e verde ou lilás e preta. Quando abri a foto, que veio acompanhada da pergunta “de quais cores são esta mochila?” fui imediatamente transportado para fevereiro de 2015, quando aquele vestido famoso nos fez descobrir que esse tipo de pergunta pode gerar muito mais discussão do que podemos imaginar. Falando nisso, ele é preto e azul ou branco e dourado?

Porque nós enxagamos as cores sempre iguais - entendendo o fenômedo de constância

Com essa polêmica do vestido, foram muitos dias quebrando a cabeça e muitas discussões acaloradas com amigos e familiares, até que parte da nossa dúvida fosse sanada. Ele é, de fato azul, e preto! Mas no fim das contas, a pergunta que não quer calar é: o que faz com que as pessoas vejam cores diferentes numa mesma imagem? Mais uma vez a neurociência pode responder as nossas dúvidas. Deixa eu explicar com exemplos bem simples:

Você já reparou que uma rosa vermelha vai nos parecer vermelha independente de estarmos olhando para ela sob a luz do sol ou sob uma iluminação artificial? Ou que uma folha em branco vai continuar nos parecendo branca independente de estarmos olhando para ela sob uma luz fria ou quente? Só para ficarmos alinhados, o conceito de luzes frias e quentes surgiu de um estudo que correlacionava a cor da luz com sua temperatura. As primeiras são compostas por tons mais escuros e azulados enquanto as segundas possuem tons mais avermelhados e amarelados.

Voltando à resposta, a luminosidade acaba interferindo diretamente em nossa percepção de cores, principalmente por conta de uma adaptação que o nosso cérebro faz, que acaba gerando um fenômeno conhecido como constância das cores. Para que este fenômeno aconteça, os nossos olhos e o nosso cérebro compensam a influência da fonte de luz na nossa percepção das cores, de maneira que mesmo em ambientes diferentes nós sejamos capazes de perceber as cores como elas realmente são. Complexo? Não tem problema, vou explicar melhor…

A iluminação artificial costuma ser rica em tons mais avermelhados/amarelados, enquanto a iluminação natural se aproxima mais de tons azulados, e são justamente essas diferenças que o nosso cérebro precisa compensar. É quase que uma fórmula matemática realizada de maneira inconsciente pelo nosso cérebro. Quando ele percebe que estamos em um ambiente com uma iluminação mais natural, o que resulta em uma maior incidência de tons quentes, ele acaba “tirando” das cores um pouco de amarelo. Quando o nosso cérebro percebe que estamos sob uma iluminação mais artificial, o fenômeno é oposto, e o resultado é que tons mais azulados são subtraídos das cores que chegam até os nossos olhos. Incrível, não é?

Mais incrível ainda quando o nosso cérebro se confunde e acaba nos proporcionando situações como a do vestido ou da mochila. O que ocorreu no caso da foto do vestido, foi que a fonte de luz não era facilmente distinguível pelo nosso cérebro – isso mesmo, o cérebro não consegui determinar com certeza se a foto foi tirada em um ambiente com luzes mais naturais ou mais artificiais. O resultado você deve ter acompanhado: algumas pessoas compensaram a imagem para um contexto de iluminação artificial, enxergando o vestido em branco e dourado (os tons azulados foram subtraídos da imagem) e outras compensaram para um contexto de iluminação natural (subtraindo tons amarelados), vendo o vestido em azul e preto.

Porque nós enxagamos as cores sempre iguais - entendendo o fenômedo de constância

Muitas são as especulações sobre o porquê isso realmente acontece. Alguns cientistas propõem que pode ser impacto do quanto os indivíduos são expostos à iluminação natural ou iluminação artificial, porém um consenso ainda não foi estabelecido. Enquanto isso, seja branco e dourado ou preto e azul, é evidente que podemos aprender muito sobre a natureza e a percepção humana através da neurociência.

Quer saber mais sobre como a nossa percepção do mundo é influenciada por diversos fatores? Então continue acompanhando o nosso blog, semana que vem tem mais =)

Porque nós enxergamos as cores sempre iguais: entendendo o fenômeno da constância